O “Dia do Senhor” é uma expressão fundamental na compreensão da revelação de Deus para o futuro. Os escritores do N T usavam esta frase conforme sua compreensão dos profetas do AT. Uma análise desses profetas demonstra que a expressão era utilizada tanto para fatos históricos próximos como para eventos escatológicos.
Os escritores neotestamentários retomaram seu sentido escatológico. Aplicaram a expressão tanto ao juízo que marcará o apogeu da Grande Tribulação como ao julgamento que precederá uma nova terra.
O Dia do Senhor é uma das principais fibras que formam a tessitura da profecia bíblica. Sem compreendê-lo claramente, os planos de Deus para o futuro ficam obscuros. A expressão aparece em quatro passagens incontestes do NT (At 2.20; 1 Ts 5.2; 2 Ts 2.2 e 2 Pe 3.10). Os profetas, contudo, foram os que mais escreveram sobre este assunto, estabelecendo os fundamentos da compreensão de Pedro e Paulo.
INFORMAÇÕES DO ANTIGO TESTAMENTO
Obadias
Já a linguagem dos versículos 15-21 aponta para um futuro distante, com o estabelecimento do Reino de Deus.
Walter Kaiser observa: “No que diz respeito ao cumprimento dessa profecia, Obadias combinou em um único cenário o que a história separa em momentos e eventos distintos [...] com acontecimentos próximos e distantes na linha do tempo, ou com múltiplos cumprimentos. Tudo isso participa no objetivo do autor de focar tanto uma vitória mais imediata contra Edom, como a vindoura vitória do Reino de Deus (Kaiser, pp. 188-189)”.
Obadias, para resumir, faz diversas contribuições ao estilo bíblico. Ele combina uma visão mais imediata (particularmente no que se refere a Edom, vv. 1-14) com uma visão de longo prazo (envolvendo todas as nações, vv. 15-21), e prediz juízo e destruição sobre todos os ímpios (vv. 15-16,18). A restauração de Israel aparece em longo prazo (vv. 17-21), mas não é evidente em um futuro próximo. O que ocorre de forma mais imediata é uma prova, uma prévia, garantindo o que o futuro guarda em uma seqüência lógica crescente. Por fim, o Dia do Senhor termina com a instauração do Reino de Deus (v. 21).
Joel
Em sua descrição do Dia do Senhor, Joel lança mão de temas que outros profetas aproveitarão posteriormente:
Joel 1.15 Destruição Isaías 13.6
Joel 2.2 Dia de trevas Sofonias 1.15
Joel 2.2 Dia de nuvens Sofonias 1.15; Ezequiel 30.3
Joel 2.2 Trevas espessas Sofonias 1.15
Joel 2.11; Grande dia 2.31 Sofonias 1.14; Malaquias 4.5
Joel 2.31; 3.15 Distúrbios cósmicos Isaías 13.10
Joel 2.31 Terrível Malaquias 4-5
Os gafanhotos de Joel são gafanhotos verdadeiros, ou locustas, que pouco antes tinham levado destruição aos campos de Judá. Estes gafanhotos haviam destruído campos e arruinado colheitas. E neste cenário de destruição que se encontra a base do discurso de Joel. Ele chama a nação ao arrependimento, para que não venha o Dia do Senhor com destruição ainda maior (1.15). A mensagem de Joel 1 é que desastres naturais, como as pragas de gafanhoto, anunciam uma iminente destruição divina.
O alerta de um desastre iminente e a experiência com gafanhotos descrita em Joel 1 são, em Joel 2, utilizados para descrever a futura destruição causada por um exército invasor. Conforme prossegue, sua profecia cresce em intensidade e abrangência. Joel 2.18-27 funciona como uma transição entre uma visão mais estreita e uma visão mais ampla. Os eventos profetizados por Joel em 2.28-32 serão espetaculares. Deus derramará do seu Espírito sobre toda a humanidade (2.28-29). Perturbações cósmicas exibirão nos céus a grandeza do Senhor (2.30-31). O arrependimento estará ao alcance de todos (2.32; Ob 17).
O mais importante em 2.31 é a declaração de que ocorrerão grandes sinais cósmicos “antes que venha o grande e terrível Dia do SENHOR”. Se Joel 3.15, Mateus 24-29 e Apocalipse 6.12 mencionam o mesmo acontecimento, isto parece limitar o Dia do Senhor ao período final da Grande Tribulação. O Dia do Senhor, ao fim da tribulação, conterá manifestações inconfundíveis da grandeza de Deus. Isto envolverá tanto perturbações físicas (2 Pe 3.10) como reavivamentos espirituais.
Amós
A profecia sobre o Dia do Senhor, em Amós 5.18, possui um importante cenário histórico. O profeta escreveu ao rei Jeroboão e às tribos do norte, predizendo seu futuro exílio na Assíria (5.27; 6.14; 7.9; 7.17). Amazias, o sacerdote de Betei, acusou Amós de conspiração (7.10) e tentou enviá-lo de volta a Judá. A mensagem de Amós não combinava com a mensagem de paz e prosperidade de Amazias.
Aqueles israelitas hipócritas enganavam-se em ansiar pelo dia da volta de Jeová. Pensavam que aquele dia lhes traria bênçãos e prosperidade. A descrição de Amós do Dia do Senhor era completamente oposta a esta visão (5.18-20). Conforme Amós, não seria um dia de júbilo, mas de trevas; um dia de tristeza, não de alegria. O dia previsto por Amós foi a queda de Samaria, em 722 a.C. (2 Rs 17).
O profeta enfatizou a inevitabilidade desta destruição (5.19-20). Ele não se utilizou da expressão “o Dia do Senhor” para retratar o aspecto escatológico do julgamento de Deus. No entanto, prenunciou a intervenção de Deus a favor de Israel, a fim de restabelecer o seu reino (9.11-15).
Isaías
O monte Sião será a capital do mundo e todas as nações afluirão para lá (2.1-2) a fim de buscar a Palavra de Deus (2.3). Deus julgará as nações e não haverá mais guerras (2.4-5). Esta ênfase escatológica em 2.2-4 leva-nos a concluir que os juízos em 2.10- 22 também são escatológicos.
Isaías descreve o Dia do Senhor como um tempo de humilhação mundial para todos aqueles que são altivos e orgulhosos (2.11-12,17). Em contrapartida, Deus mostrará o esplendor de sua majestade e o povo fugirá para cavernas em busca de proteção (2.10,19,21). Somente o Senhor será exaltado (2.11,17). A seqüência dos eventos e a terminologia de Isaías 2.21 são surpreendentemente semelhantes à descrição do sexto selo em Apocalipse 6.16-17.
Isaías 13.1-8 fala sobre Deus utilizando a Babilônia como instrumento da sua indignação, para a destruição de Israel (13.5- 6). Isto lembra uma das consternações de Habacuque com a possibilidade de Deus fazer tal coisa (Hc 1.2-4). Isaías tinha o Dia do Senhor em mente (13.6), muito embora ainda faltassem cem anos para tal dia, que chegou quando a Babilônia destruiu Judá em 586 a.C. Isaías 13.9-16, contudo, fala sobre implicações para o futuro distante: distúrbios cósmicos (13.10,13; Mt 24.29; Ap 6.12-13; J1 2.31) e o julgamento de toda a humanidade (13.11; leia 2.11-12).
A ênfase em questões mais imediatas volta em 13.17-22, onde Isaías descreve o fim da Babilônia.
Sofonias
De forma bastante intensa e realista, Sofonias 1.14 descreve o Dia do Senhor como um dia de ira, caracterizando-o como um tempo de inquietações e tristezas, destruições e desolação, escuridão e sombras, nuvens e densas trevas, trombetas e clamores de batalhas.
Ezequiel
Ao contrário do que faz Obadias em 1.15-21, Ezequiel não apresenta nenhuma aplicação escatológica clara a todas as nações. Charles Feinberg (p. 173), porém, sugere que devemos supor esta aplicação. O dia do juízo de Deus sobre o Egito pode ser identificado, em princípio, com o dia em que o Senhor exigirá que todas as nações prestem contas.
Zacarias
Zacarias é o primeiro profeta a falar sobre o Dia do Senhor após o exílio. Como os juízos exercidos por meio da Assíria e da Babilônia já tinham ficado na história, toda a profecia de Zacarias diz respeito a uma longínqua expectativa escatológica. Seu tema no capítulo 14 é o Dia do Senhor e suas conseqüências, onde se afirma que, antes de melhorar (14.1-14), tudo irá piorar (14-2,5). Deus então interferirá contra as nações e lutará por Israel (14-3- 5,12-13).
Trata-se de uma descrição da volta de Cristo no Armagedom (Jl 3; Mt 24; Ap 19), a fim de estabelecer seu reino no Milênio e reclamar seu lugar de direito no trono de Davi. Zacarias sempre descreve o Dia do Senhor como o dia da ira e da fúria de Deus, não como um dia de bênçãos. Podemos então concluir que se trata de um tempo em que Deus intervém como justo Juiz, a fim de impor e executar seu decreto de castigo. Após o Dia do Senhor escatológico cumprir os decretos divinos, Deus reinará sobre a terra e abençoará seu povo. As bênçãos vinculadas ao Dia do Senhor são cronologicamente posteriores a ele e não concomitantes.
Malaquias
O grande e terrível dia de Malaquias 4.5 (Jl 2.11,31; Sf 1.14) está descrito em 4.1-3. Trata-se de um dia de juízos, como se vê claramente pelas referências a fornalhas, fogo, restolho e cinzas. Este trecho aponta para o fim da Grande Tribulação, quando será derramada a ira do Cordeiro e do Deus Todo-poderoso (Ap 6.16-17; 16.14).
O CUMPRIMENTO PROFÉTICO
Os profetas, servos de Deus, falaram acerca do Dia do Senhor tanto como algo próximo como escatológico. Muitas passagens trazem esta transição do imediato para o distante. Em cada “Dia do Senhor”, o tema principal é o juízo de Deus sobre o pecado. As bênçãos do Reino de Deus são subsequentes e vêm em conseqüência do Dia do Senhor, mas não são parte dele.
R. V. G. Tasker observa: “A expressão ‘Dia do Senhor’, ao tempo do surgimento dos grandes profetas de Israel, referia-se a um acontecimento ansiosamente aguardado pelos israelitas. Era a vingança divina final da justiça do seu povo contra seus inimigos” (Tasker, p. 45).
George Ladd acrescenta: "Os profetas enxergavam o futuro Imediato contra um pano de fundo escatológico, pois o mesmo Deus que agia na história imediata acabaria por estabelecer seu reino no futuro” (Ladd, p. 68).
O “Dia do Senhor” é uma frase bíblica utilizada pelos profetas de Deus. Com ela, descreviam tanto o futuro imediato como a derradeira consumação escatológica. O leitor deve interpretar cada ocorrência da expressão em seu contexto e, então, determinar se a visão do profeta se referia a um ato imediato de Deus ou a um derradeiro acontecimento escatológico.
Dois períodos do Dia do Senhor ainda aguardam cumprimento sobre a terra: (1) o julgamento que encerra a Grande Tribulação (2 Ts 2.2; Ap 16-18) e (2) o juízo final sobre a terra que levará a um novo mundo (2 Pe 3.10-13; Ap 20.7-21.1). A utilização da expressão “Dia do Senhor”, no AT, fornece-nos base para uma interpretação mais precisa de Atos 2.20, 1 Tessalonicenses 5.2, 2 Tessalonicenses 2.2 e 2 Pedro 3.10. Cada uma destas passagens possui uma ênfase escatológica.
G. M. Burge (p. 295) observa que, com relação à segunda vinda de Cristo e ao julgamento no “Dia de Cristo”, o NT conserva a mesma expectativa futurística para o Dia do Senhor (Fp 1.10; 2 Ts 2.2). Os escritores do NT, portanto, interpretam este dia com olhos para seu cumprimento escatológico. —Richard L. Mayhue
BIBLIOGRAFIA
Burge, C. M. “Day of Christ, Cod, the Lord”, em Evangelical Dictionary of Theology. Grand Rapids: Baker Books, 1984.
Feinberg, Charles. The Minor Prophets. Chicago: Moody Press, 1976.
Kaiser, Walter. Towards an Old Testament Theology. Crand Rapids: Zondervan, 1978.
Ladd, George. The Presence of the Future. Grand Rapids: Eerdmans Publishing Company, 1974.
Price, W. K. The Prophet Joel and the Day of the Lord. Chicago: Moody Press, 1971.
Tasker, R. V. C. The Biblical Doctrine ofthe WrathofCod. London: The Tyndale Press, 1951.
esse estudo está no livro enciclopédia popular de profecia bíblica, de im lahaye e ed hindson
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