“O saber ensoberbece”, como bem ensinou o apóstolo Paulo em 1Coríntios 8.1. Ele estava falando de irmãos que se achavam maduros demais para não se preocuparem com outros irmãos da fé, tidos, mais fracos. A soberba deles os deixaram cegos para verem que só o “amor edifica”. Esse é um dos grandes problemas de nós, seres humanos: quanto mais conhecemos, temos a ilusão de que somos melhores do que os outros, geralmente tidos por nós como ignorantes e fracos de raciocínio.
Paulo adverte que o conhecer não significa, ou pelo menos não deveria significar, ensoberbecer. Quem sabe mais um juiz de direito ou um médico? Um professor universitário de filosofia ou outro de literatura? Um outro Paulo – que não era apóstolo no sentindo bíblico, mas era um apóstolo (enviado) da educação – o Freire, já dizia que ninguém sabe mais do que o outro. Apenas temos saberes diferentes, ou seja, o meu saber é fruto de minhas experiências e o seu saber é fruto de suas experiências. Quando conversamos temos a oportunidade de trocar essas experiências, esses saberes, e assim poderemos crescer juntos.
O orgulho de saber pode nos enganar. Foi isso que o apóstolo Paulo expressou na sua afirmação. Será que sou melhor do que o outro só porque sei algo que ele não sabe? Se você parar pra pensar todos nós sabemos de alguma coisa. Mesmo aqueles que nunca frequentaram uma sala de aula. Um agricultor que lida com a roça todos os dias sabe detalhes que você, tão estudioso, ignora. Uma dona de casa sabe o ponto certo de determinadas comidas que você, por mais estudioso que seja, não consegue descobrir sem muita prática e humildade.
O verdadeiro sábio é aquele que reconhece que não sabe tudo e nem precisa saber. Lembra-se da famosa frase atribuída ao grande filósofo Sócrates: “Só sei que nada sei”? Não significa evidentemente que ele não sabia de nada, mas sabia de algumas coisas que precisava saber e que outras não tinha certeza plena. Ninguém poderá saber tudo nem que viva duzentos anos. O conhecimento, hoje em dia, multiplica-se numa velocidade inatingível.
Algum dia você já disse soberbamente: “você sabe com quem está falando? Você pensa que é alguma coisa por causa dos seus diplomas? Por causa dos cursos que já realizou? Pelas abreviaturas que antecedem o seu honroso nome? Pelas posses materias que você tem?
Basta uma doencinha para derrubar qualquer mortal. Por exemplo: já teve dengue? Um pequeno mosquito pode derrubar um orgulhoso gigante. Na hora da dor não pensamos em nossos títulos. Um mosquito, um vírus, uma bactéria não respeita títulos.
Portanto, não fique se achando só porque tem um conhecimento em determinada área. Não seja presunçoso, soberbo. Com os assuntos eternos é que devemos ter cuidado. Deus não deu autorização para sermos os donos do céu, os senhores da alma alheia, quer sejamos apologistas, pastores, bispos, padres, apóstolos ou papas. Nem Salomão com toda sua sabedoria, com todo o seu saber, teve essa presunção. A Bíblia diz que Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes (Tg 4.6).
Já inquiriu o salmista: “Que é o homem mortal para que te lembres dele? e o filho do homem, para que o visites?” (Sl 8.4). O homem é só um cadáver adiado, nas palavras de Fernando Pessoa. Ou como disse o filósofo Mário Sérgio Cortella: “Tu és o vice treco do sub troço”.
Por Antônio Pereira Jr.
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